domingo, 19 de maio de 2013

Deus, a Arca de Noé, o salvamento dos dinossauros e a ciência.

A Arca de Noé
Três situações. A primeira: Há alguns dias atrás um grupo de participantes da Convenção Americana de Paleontologia resolveu visitar o Museu da Criação, localizado no norte do estado de Kentucky. O tal museu foi edificado por membros de várias denominações religiosas que contestam a Teoria da Evolução das Espécies, elaborada por Charles Darwin. Segundo os organizadores do museu, a Terra, o universo, os dinossauros, o homo sapiens e tudo mais têm apenas 6.000 anos de idade. Ou seja, Deus teria criado a um só tempo tudo o que há ou existiu no nosso planeta. Para os criacionistas os dinossauros morreram por causa do dilúvio em 2.348 a.C., mas cerca de 50 espécies foram salvas por Noé em sua arca. Todavia, como explicar a diversidade de plantas e animais existentes em nosso planeta em tão pouco tempo? A resposta dada é que "Deus forneceu aos organismos ferramentas especiais para mudar rapidamente". Simples assim!
Martinho Lutero

A segunda: Em 1539, Martinho Lutero (1483-1546) se mostrava inconformado com a teoria apresentada pelo cônego polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que situava o Sol no centro do sistema planetário e não mais a Terra. Até o Renascimento o pensamento hegemônico era que o nosso planeta ocupava o centro do universo. Tal ideia de Copérnico, segundo Lutero e a própria Igreja Católica, ia de encontro ao que estava na Bíblia, pois de acordo com a leitura literal que faziam das sagradas escrituras, Deus colocou a humanidade no epicentro do universo por ser sua imagem e semelhança. Lutero bradou contra Copérnico: "Este louco quer inverter todas a ciência da astronomia; mas as sagradas escrituras nos dizem (Josué 10,13) que Josué ordenou que o Sol parasse,  não a Terra".

A terceira: Galileu Galilei (1564-1642), matemático, físico e astrônomo italiano, sofreu perseguição por parte da Igreja Católica que não aceitava suas conclusões posto que colocavam em xeque, entre outras coisas, a teoria que supunha Terra no centro do universo. Através de um livro lançado em 1610 intitulado O Mensageiro das Estrelas (Sidereus Nuncius) apresentou várias de suas descobertas: os satélites de Júpiter, as montanhas e as crateras da Lua e outras mais. Por conta do questionamento que fazia à teoria geocêntrica, formulada por Claudius Ptolomeu  (85-165) e que respondia aos interesses e expectativas da Igreja Católica e de outras denominações cristãs, foi duramente perseguido pela Inquisição e somente não foi queimado na fogueira porque renunciou (oficialmente) às suas ideias.

Galileu Galilei
Nos três casos citados percebe-se o conflito latente entre religião e ciência. Se, de um lado, os criacionistas nos remetem ao obscurantismo por conta da negação das conquistas científicas proporcionadas pela Teoria da Evolução das Espécies para a melhor compreensão do mundo em que vivemos; de outro, a ciência, não possui em si mesma a verdade. Aliás, a última edição da Revista Ciência Hoje, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), traz uma interessante matéria intitulada Confiabilidade em crise: até onde podemos acreditar na literatura científica? A reflexão que a matéria suscita diz respeito a aparente objetividade da literatura científica da área biomédica e a ocultação dos conflitos de interesse, erros de pesquisas, o papel dos financiadores, assim como propugna maior transparência na apresentação e debate dos resultados das pesquisas.

É preciso sempre ressaltar: a ciência não trabalha a partir de dogmas e é ciência justamente porque pode ser questionada. Esses são alguns dos aspectos cruciais que a diferencia da religião. Atualmente existem muitos pontos de atritos entre ciência e religião como os casos referentes ao aborto e aos estudos com células-tronco. Como enfrentá-los de maneira a atender essencialmente os interesses da sociedade e não somente de pequenos grupos - sejam eles econômicos, políticos ou religiosos - é, talvez, o grande desafio que se impõe a todos(as) nós. Contudo, o posicionamento de setores como os dos organizadores do Museu da Criação  pouco ou nada ajudam ao bom diálogo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Big Brother da vida real.

Reflita sobre essas situações: a) Sua empresa construiu um novo programa de computador que colocará em xeque os serviços oferecidos por uma grande transnacional, pois tornará obsoleto um determinado  serviço monopolizado por ela que, aliás, lhe rende milhões e milhões de dólares ao ano; b) Você é um ativista político que luta contra as tentativas do seu governo de implantar centenas de hidrelétricas na Amazônia que juntas promoverão a destruição de vastas extensões do território. As ações desenvolvidas por você  e seu grupo criam enormes constrangimentos e prejuízos a poderosas empreiteiras e bancos vinculadas aos empreendimentos. Conseguiu mentalizar as duas situações? Vamos ao próximo passo.

Nas duas situações você se tornou um estorvo e será preciso fazer algo para contê-lo de alguma forma. Então, os contrariados por você resolvem espioná-lo. A alternativa encontrada é introduzir um drone na sua residência a fim de vigiá-lo 24 horas por dia, durante os 07 dias da semana e 365 dias do ano. O drone em questão tem o formato de uma pequena mosca que permanece "colada" em você. Através desse dispositivo seus adversários sabem absolutamente tudo o que você você faz. O que você acha dessa situação?

Um tipo de drone utilizado pelos EUA no Afeganistão
Um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) ou Veículo Aéreo Remotamente Pilotado (VARP), também chamado UAV (do inglês Unmanned Aerial Vehicle) e mais conhecido como drone (zangão, em inglês), é todo e qualquer tipo de aeronave que não necessita de pilotos embarcados para ser guiada. Esses aviões são controlados à distância, por meios eletrônicos e computacionais, sob a supervisão e governo humanos, ou sem a sua intervenção, por meio de Controladores Lógicos Programáveis (PLC) - ver Wikipedia. Se você acompanha de alguma forma pelos meios de comunicação a ocupação militar promovida pelos Estados Unidos no Afeganistão já ouviu falar dos drones. Aliás, no mesmo período em que ocorreu a explosão de uma bomba durante a maratona de Boston alguns poucos jornais noticiaram a morte de dezenas de civis afegãos, a maioria crianças, provocada pelas bombas lançadas por um drone.

A última edição da revista Scientific American traz uma interessante reportagem alertando sobre os perigos à privacidade dos estadunidenses por conta de um possível uso intensivo e extensivo de drones no interior  do próprio país. O debate no Congresso sobre esse assunto está paralisado. Enquanto isso, os órgãos de segurança dos Estados Unidos vêm investindo montanhas de dólares no aperfeiçoamento dos drones, com a possibilidade de que no futuro os mesmos adquiram o formato de uma simples mosca ou vespa para efetuar a vigilância de pessoas, por exemplo. 
Mosca ou drone?
Entretanto, há quem refute tal possibilidade afirmando que tais "veículos" serão empregados no socorro a vítimas de catástrofes ou no combate às drogas, entre outras atividades legais. Quem garante que os drones não serão utilizados para o controle em massa da população quando não há sequer regras claras na legislação estadunidense sobre o assunto?

O genial George Orwell tratou em seu livro 1984 do Grande Irmão (o Big Brother), este capaz de exercer o controle totalitário sobre a sociedade e seus cidadãos. Nada lhe escapava ao controle. Será que os drones vieram para confirmar que essa é uma possibilidade que se torna cada vez mais real? Pense nisso.